DATA | HORA
18.04.2018 | 14h00

LOCAL
Sala 1, CES | Alta - Coimbra, Portugal

RESUMO
Os heróis nacionais contemporâneos são parte do discurso que (re)constrói a nação enquanto realidade e mito. A figura do herói tende a definir-se a partir de valores como a valentia, a determinação e a pujança física, associados ao imaginário de masculinidade dominante, e a ser representada como transcendente, por oposição ao ser humano comum. Neste seminário partiremos de pesquisas específicas efetuadas no campo dos Estudos da Memória e dos Estudos de Género para problematizar os arquétipos que definem modelos de heroísmo e vileza e as representações que os envolvem. Observaremos os mecanismos discursivos, mnemónicos e sociopolíticos que criam os heróis (e os vilões) e procuraremos analisar a sua relação com outros pares dicotómicos: normal e anormal, vítima e perpetrador, coragem e cobardia, presença e ausência, celebração e estigma.

PARTICIPANTES
Ana Cristina Santos, Ana Lúcia Santos, Fernanda Belizário, Inês Rodrigues, Mara Pieri, Mercedes Sanchez Sainz, Miguel Cardina, Sílvia Roque e Vasco Martins

ORGANIZAÇÃO
Projetos de investigação CROME - Memórias cruzadas, políticas do silêncio: as guerras coloniais e de libertação em tempos pós-coloniais, ECHOES - Historicizar Memórias da Guerra Colonial e INTIMATE – Cidadania, Cuidado e Escolha: A Micropolítica da Intimidade na Europa do Sul

COMUNICAÇÕES

Miguel Cardina e Inês Rodrigues, A figura do combatente: uma leitura diacrónica a partir de Cabo Verde

Com base numa reflexão mais ampla sobre a construção nacional da figura do combatente em contexto pós-guerras coloniais e de libertação, procurar-se-á traçar a evolução da representação do Combatente da Liberdade da Pátria em Cabo Verde demonstrando como esta sustenta uma hierarquia de valor que se articula em torno do binómio de heroísmo e vilania.

 

Sílvia Roque, Amílcar Cabral, herói mitigado: entre o desejo e o ressentimento


A comunicação analisa a construção do herói Amílcar Cabral, por gerações de guineenses que não viveram a luta de libertação, como significante mnemónico que evoca uma série de significados distintos atribuídos ao passado à luz da realidade pós-colonial. Se a representação de Cabral como líder africano e estratega maior continua a assumir um lugar primordial e incontestável entre as referências dos mais jovens, a representação de Cabral como herói da nação, apesar de constante e acesa, surge também, por outro lado, de forma mitigada em muitos discursos. Isto porque, argumentarei, a construção do heroísmo assenta hoje fundamentalmente num sentimento generalizado de ausência e orfandade, o qual se expressa tanto através do desejo como do ressentimento em relação ao que Cabral representa: o Estado, a Nação e a Luta.

 

Vasco Martins, Jonas Savimbi: memórias de um tempo que ainda não passou


Esta comunicação visa estabelecer um contraste entre duas representações da personagem mais polémica da vida contemporânea de Angola, Jonas Savimbi. Entre herói e vilão, libertador e traidor, homem do povo e assassino, as suas ideias e a memória do seu tempo permanecem firmemente incrustadas na mente dos Angolanos, pautando os seus medos e alimentando as suas aspirações. Nesta comunicação explorarei a forma como a figura ‘Jonas Savimbi’ propicia actos de memória passíveis de instrumentalização política, operando entre mnemónicas binárias que funcionam como repositório, não apenas de controlo social, mas que acentuam também a esperança por um país melhor.